DE
REPENTE UM AÍ
Ezildo
Antunes[1]
Estavam
eles tão passivamente dispersos e distraídos com o ato do Criador e eis que de
repente surge uma voz inebriante e sagaz que disse:
__ Coma deste fruto!
De
início, a mulher disse, não! E retrucou:
__ Estamos em total conforto e abundância do todo. Não carecemos desta fruta!
Mas
a voz insistiu:
___ Comais já deste fruto e sentirás que o
seu humor vítreo te esconde algo muito mais sublime do que agora vês.
A
mulher, então, em sua cuidadosa intuição e perspicaz desejo indagou:
___ Algo mais sublime? O que pode ser mais
sublime do que a doçura da obediência e a certeza da vida?
A
voz investiu de vez - pois quando se pergunta por algo é dado o primeiro passo
pelo interesse completo!
___ Doçura?! Você mulher não sabe mesmo de doçura!
O doce dessa fruta contém o doce mais saboroso de todos os sabores dos doces.
A
mulher impetuosa e com a curiosidade exalando, com a pele inteira enrubescida
esticou as veias dos braços e num ato quase encantado, com as duas mãos
estendidas tomou para si aquela fruta e usando mesmo seus sentidos, sentidos
perfeitos do criador, fez estalar os dentes naquela fruta maçuda, naquela fruta
carnuda, foi quase um ato de amor.
O
homem por sua vez estava ali extasiado, bem descompromissado, nu sem ter o que fazer.
Mas de repente em um toque, sentiu a mulher chegar e quando ele pôs-se a olhar,
olhou-a bem diferente, com aquela fruta nos dentes mordia cada vez mais, e sem
perguntar por nada, se viu por ela abraçado, quisera ter recusado, mas tempo
não dava mais. Então também desejoso, talvez até corajoso mordeu a fruta de
fato. Sentiu o doce sabor, contava as mastigadas e a mulher nele abraçada dizia
somos um par.
Então
queriam mais fruta, mas a voz que era astuta disse daquela já não tem mais. De
fato não tinha mesmo, pois bastava uma delas, era fato consumado e os dois
desconfiados viram algo diferente, seus rostos estavam quentes, sentiram o
húmus da terra e como se numa guerra sentiram tanta vergonha, mas claro ninguém
se oponha, pois nesta cena medonha eis que de repente um aí.
Muito bom este texto !!
ResponderExcluirObrigado (Anônimo)
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