quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

ANGÚSTIA EM HEIDEGGER

Para responder a questão colocada, isto é, caracterizar (expor características) do papel que a angústia ocupa na filosofia de Heidegger, faz-se necessário dividir esse ensaio em pelo menos quatro blocos explicativos.

O primeiro deles deve conter uma breve explicação do cerne da filosofia de Heidegger, isto é, o resgate do sentido do ser e a clarificação do conceito de dasein. O segundo, deve responder de que angústia Heidegger está falando em sua obra capital: Ser e Tempo. No terceiro é preciso que se destaque a angústia pinçada dentre outros estados como o medo e o tédio, por exemplo. E no último bloco deve-se explicar com que angústia se angustia.

Comecemos então explicitando os dois pontos nucleares da filosofia de Heidegger, qual seja, o resgate do sentido do ser e a apresentação do conceito de dasein. Heidegger tenta quebrar com a tradição da filosofia e através da apresentação de um método bem formulado, ou seja, através do desenvolvimento do que ele denomina de ontologia fundamental, traz à tona o sentido do ser, isto é, busca um desvelamento desta que através dos tempos a filosofia tentou encrustá-lo.

Assim, Heidegger apresenta-nos o dasein, isto é, o homem que possui a capacidade de questionar sobre o sentido do ser e, em sua obra já citada acima, já na introdução, afirma que nós mesmos somos esse ser. Com isso, ele parte para a exposição de quais características formam esse ser que é o único que pode perguntar pelo sentido do ser. Heidegger prepara então o campo de sua jornada teórica a fim de caracterizar o já postulado desein.

O dasein  é o ser que de certa forma foi lançado "aí" e nesse "aí" é que ele deve realizar-se e realizar. A partir desse estar lançado, Heidegger emenda outras características do dasein, por exemplo, o estado de decadência e o de ser-no-mundo. É neste momento oportuno que Heidegger presenteia-nos com o conceito de angústia.

Colocada essa breve introdução sobre a filosofia heideggeriana e sobre o dasein, adentra-se agora no segundo bloco para explicar de que angústia Heidegger está falando. A medida que que o ser se "mistura" com o os outros entes, ele sempre vai estar no impessoal, ou seja, fica sempre pré-ocupado com que o outro representa e faz no mundo.

Vivendo segundo o impessoal, o ser esquece de seu valor originário e por isso entra em decadência como fuga de si mesmo. Fugindo de si mesmo, ele não consegue ver-se como um ser de possibiliades e é só através da angústia (como abertura constitutiva) de si mesmo que ele se re-encontrará sua originalidade. Deve ser dito também nesse bloco que a angústia que Heidegger postula não é a mesma do simples ser psicológico que se angustia com que lhe está ameaçando diretamente.

Daí surge a possibilidade de adentrar ao terceiro ponto já mencionado antes, ou seja, é preciso retirar a angústia heideggeriana do mesmo patamar que se encontram outros estados de humor, como por exemplo, a ansiedade, o medo e o tédio. A angústia não é uma mera ansiedade que perpassa o ser. O medo por sua vez, não faz o papel da angústia, pois o que se teme, segundo Heidegger, é sempre o ente intramundano e angústia não se angustia com que é manual ou com as coisas do mundo, tudo isso para a angústia é contingência. Assim também ela se diferencia do tédio, pois entediar-se no cotidiano não leva o ser a encarar-se e nem voltar-se para si mesmo. Assim o papel que a angústia assume é bem mais amplo do que os outros estados, pois é diferenciada para que caiba na estrutura da filosofia existencial de Heidegger.

Então como caracterizamos essa angústia? Como já elencado, a angústia se difere dos outros estados de humor por não ter algo concreto para que ela ocorra. A angústia leva o ser a angustiar-se com o próprio mundo como tal, não o mundo concreto, mas o próprio mundo como estado de ser. Isso ocorre pois:
1º) o ser não escolhe ser-aí;
2º) tem que ser;
3º) é ser para o nada
Ao se deparar com essa condição (tripé problemático da existência), o ser se sente como que esquisito, isto é, fora de casa e aí que a angústia aparece.
A angústia não provém do outro que está aí, este é mais um na existência. A angústia nasce da própria totalidade (não como soma das coisas), mas com o todo que se colapsa diante do ser e com seu estado de pura decadência. A angústia não está aí, nem ali, nem lugar algum e se assim for, a angústia nasce do nada, mas não um nada como um vazio em que as coisas se esvaem, mas um nada que preenche o existencial do ser.

Angustiar-se então, não tem nada a ver com o concreto, mas é buscar-se a todo instante dentro de uma facticidade imposta ao ser que deve manter-se original em meio a um emaranhado de coisas do mundo. Nesses sentido, não se pode deixar de dizer que a angústia é uma marca implacável do ser-para-morte. O ser é um ser é um ser de possibilidades e é a angústia que o faz assim. Mas quando ele encontra a possibilidade da não possibilidade, isto é, o morrer, então, o ser procura realizar todas as possibilidades que lhe são alcançáveis.
Finalizando esse, pode-se afirmar que a angústia desempenha um papel determinante na filosofia existencial de Heidegger, e, que sem ela o dasein/ser é apenas mais um na impessoalidade, pois como está escrito na obra Ontologia (hermenêutica da facticidade): "o ser-aí fala de si mesmo, vê-se a si mesmo deste ou daquele modo e, com tudo, isso é apenas uma máscara pela qual ele se encobre, a fim de não espantar-se diante de si mesmo, trata-se de uma prevenção da angústia." (p. 40).

Ezildo Antunes - fev/2015





ARTE

Arte minha, arte tua
De museu, arte de rua
Falam de sete artes
Mas eu penso: é muito mais!
Todo mundo é artista
O ser humano é capaz
De criar o diferente
Expor aquilo que sente
Deixar marcas por aqui
Não sei se dom ou capricho
Mas eu sei que tudo isso
Deixa o mundo bem melhor
Pinte, cante, pense algo
Mas não deixe de fazer
Pois a melhor arte que existe
É a arte de viver.

(Ezildo Antunes - 2007)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015