domingo, 29 de janeiro de 2017

SE

Se algum dia me disseres que a dor já passou
Então levanto de madrugada e corro para os seus braços
Saio correndo feito água de rio que não encontra obstáculo
Fujo feito lava de vulcão incontrolável
Beijo-a feito furacão envolvente
Abraço-a feito rebento de semente em terra fértil.
Se algum dia disser que há esperança
Então não preciso de bússola
Voo até os confins da galáxia
E puxo-a pela mão
Corro contigo na chuva
Compro pra ti um cachecol carmim.
Se algum dia me disser que estás feliz assim
Então me encolho
Me fecho como um caracol frente a um punhado de sal
Me retiro como super herói que não quer revelar a identidade
Vou-me como folha sem rumo tocada pelo vento.
Se algum dia me disser que está tudo terminado
Então me transformo em ponto final
Não escrevo mais poesia
Não dedilho meu violão, não acendo mais fogueiras
Não faço mais nada
A não ser viver até o pôr do sol
Não canto, nem choro, nem rezo, nem durmo...
Fico aí pelos cantos como um moribundo esperando a ferida cicatrizar.
Se me disseres que os tempos são outros
Então eu concordarei e pedirei só pra descansar em paz
Peço licença e me refugio em um casebre nas montanhas de gelo
Ali acendo, aceno, ascendo...



                                              (Bertulinha/17)

domingo, 22 de janeiro de 2017

SEMIFUSA

Há tantas coisas em semifusa
Há tantas coisas em ‘desarrollo’
Em meio mundo, meio difuso, meio confuso...
De com+fusão, de descompasso, sem fusão.
E agora o que representam palavras como:
Pedra, beijo, mar, fim, tempo, calçada?
E o puramente nadificador?
E o espumante? E o licor?
Cadê as pernas, o voo, a alma?
Vê a palavra grifada a cima?
Foi um erro! Troquei a posição do ‘l’ e do ‘a’.
O ‘l’ vinha primeiro, depois o ‘a’!
Mas vi que o erro era um acerto!
Óh lama! Pra que serve?
Óh alma! Ainda vives?
Em derrocada está o tempo! Está a lama! Está a alma!
E agora o que vês pelas fendas deixadas pelas suas decisões?
São só fendas. Impenetráveis a não ser pela luz.
Óh luz! Quem é capaz de suportar a ardência nos olhos?
Preferes então: Fendas ou Vendas?
Com vendas não vês a fenda e sem fendas não vês a luz.
Vendas? Venda as vendas, fique com as fendas...
Pois onde há fendas, há luz, há passagem, há esperança...
De semifusa à clareira!

E... é... parece ser só isso.

           (Bertulinha/17)

sábado, 14 de janeiro de 2017

MONOSSÍLABOS

Sobretudo ainda estou vivendo...
Às vezes solidão, às vezes tédio
E eis que é nesses estados
Que nos apossamos de nós mesmos
É rasgando a sombra da angústia
Que sentimos como somos por debaixo da pele
Nada de desistir e achar que tudo está perdido
Pois é no rebento pelo qual se invalida a casca da semente
Que surge a mais bela planta
E é por isso mesmo que de semeadura vivemos nós
Mesmo sabendo que a colheita é custosa e o retorno é quase um quadro vazio...
Só peço que me sobre forças para arrastar pelo caminho aquilo que sobrou do que sonhei
Tudo é começo, tudo é recomeço e projeto
No projetar podemos arriscar voos com apenas três monossílabos: ré, fé, pé...
Ré é a doçura do acorde e às vezes um regresso preciso
Fé é por si mesma e você entenda como quiser
Pé é caminho, disposição, é rastro, é marca!
Avante já, pois o tempo não espera!


         (Bertulinha/17)