sábado, 12 de agosto de 2017

FILOSOFAR PARA PENSAR A COMPLEXIDADE

FILOSOFAR PARA PENSAR A COMPLEXIDADE

Ezildo Antunes[1]

            Alguns dizem que filosofar é: “como um cego procurar um gato preto num quarto escuro, onde não há gato nenhum.”
            Isso não é verdade!
            Para além do nada, a filosofia pode sim exercer um papel de fundamental importância para o desenvolvimento do pensamento complexo. Aliás, alguns dizem que as palavras: pensamento e complexo podem representar um belíssimo pleonasmo, já que pensar é uma atividade complexa.
            No entanto, hoje, as pessoas não pensam de forma complexa, ou seja, o pensar, no sentido de examinar os vários aspectos da vida tornou-se quase descartável. Nunca o ditado: “falar sem pensar” está tão em voga. É só conferir os chamados ‘textões’ nas redes sociais. São poucos aqueles que tem coerência argumentativa, ou seja, fala-se o que quer, quando quer, sobre tudo, sem um aprofundamento para se chegar ao cerne das questões.
            Como bem ensinou o filósofo alemão Hegel (1770 – 1831), é preciso que haja um movimento dialético no raciocínio quando investimos em debater qualquer tema. Esse movimento dialético é formado pelo tripé: tese-antítese-síntese e é a partir disso que deve se pautar uma discussão no nível do raciocínio complexo.
            O que perdemos com o pseudo ‘fale o que quiser’, foi a capacidade de dialogar sobre as questões mais cruciais da condição humana. Ao deixarmos de lado o λόγος, termo da língua grega que pode ser traduzido como palavra, no sentido de falar com razão, fomos nos tornando pessoas superficiais no tratamento de temas que por vezes são de suma importância para a nossa existência.
            Portanto, é no resgate dessa capacidade de discussão dialógica que podemos conferir um papel de suma importância para o filosofar desde os primeiros anos da infância.
            Neste caso, congratulações às escolas que desde as séries iniciais já se preocupam com o ‘pensar’, pois quanto mais cedo se começa a reflexão filosófica, antes é a maturação do pensamento sobre assuntos relevantes para as crianças e os adolescentes.
            Isso não significa que devemos despejar um texto hermético de um filósofo como Kant (1724 – 1804) por exemplo, mas, ir inserindo teses filosóficas a partir de situações problemas que os estudantes vivenciam na cotidianidade.
            Um dos temas mais cruciais para o desenvolvimento do pensamento complexo é exatamente explorar as questões ligadas às escolhas e decisões. Pensar para fazer é uma tese forte no âmbito filosófico, pois os estudantes terão mais êxitos em suas escolhas e decisões quanto mais forem de fato pensadas a partir da pré-visualização das melhores possibilidades. Ao realizar isso, as crianças e adolescentes nada mais estarão fazendo do que pensar sobre o pensar, isto é, de forma culta, estarão utilizando-se da metacognição.
            Por fim, a filosofia não deve ser suprimida das grades curriculares, pois ela tem uma função decisiva no que diz respeito ao desenvolvimento intelectual dos estudantes do nosso tempo. Pensar a partir dos passos filosóficos é potencializar o ímpeto crítico e criativo que há em cada um dos estudantes.
            Além disso, a filosofia pode auxiliar no desenvolvimento de muitas habilidades cognitivas as quais são apresentadas por Kohan, 2000: “... habilidades de investigação, habilidades de raciocínio, habilidades de organização e habilidades de tradução (diálogo).” (p. 63 – 64).
            Filosofar, portanto, não deve ser visto apenas como um complemento para o desenvolvimento intelectual dos estudantes, mas deve ser mantida no centro do processo de aprendizagem para que formemos estudantes não só com autonomia de pensamento, mas ‘instrumentalizados’, para moverem-se na complexa aventura da existência.
           








[1] Professor de Int. à Filosofia. É Especialista em Educação e Mestre em Filosofia.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Pai, homem forte de bravura


Com os olhos rasos d’água ponteio a minha viola
Pra render minha homenagem àquele que eu tanto adoro
Homenagem ao meu Pai homem forte de bravura
Não me deu tudo o que eu quis, me ensinou a ser feliz
Conselhos tinha de sobra.

Tudo o que ficou guardado aqui em minha memória
São marcas de amor gravadas, fazem parte dessa história
Olhar de autoridade, mas tinha também ternura
Bons exemplos papai deu, hoje a saudade bateu
Daqueles tempos de outrora.

Se hoje eu sou homem feito, eu fui o seu aprendiz
Desde a lida lá na roça e o que na cidade eu fiz
Respeito à natureza, gosto por moda de viola
Pra você a gratidão, do fundo do coração
Nesses versos de viola.

Nos seus passos quero andar estampando alegria
A lembrança permanece, sabendo que é meu guia
Na certeza do que é o bem que um dia você ensinou
Agradeço pelo amor, assim como um cantador

Eu digo muito obrigado.

quarta-feira, 15 de março de 2017

sábado, 4 de março de 2017

ENTRE

ENTRE

Entre! A porta está de frente pra rua
Entre! Entre a minha boca e a sua
Entremeios...
Meio entreaberto
Meio deserto, aberto, entre... agora saia...
Entrega-te aos passos por entre as pedras
Lá vêm mais dois versos
Versos entre redemoinhos, moinhos de ventos...
Entre nós dois o que há?
Uma fábula?
Um conto?
Um poema?
Um longínquo lugar?
Agora “entre aspas”
Depois verdade
Do ontem não lembro.
Entrelace de azuis, desenlace e trama, drama...
Justo agora que não temos mais tempo, só cuidado.
O que fica entre o passado e o presente?
O que o presente tem do passado?
Nem vou citar do futuro... (não sei)
Pois tempo não se mede assim!
Entre minhas palavras e aquilo que penso, aquilo que sinto.
Ninguém há de saber...



         #Bertulinha/17

domingo, 29 de janeiro de 2017

SE

Se algum dia me disseres que a dor já passou
Então levanto de madrugada e corro para os seus braços
Saio correndo feito água de rio que não encontra obstáculo
Fujo feito lava de vulcão incontrolável
Beijo-a feito furacão envolvente
Abraço-a feito rebento de semente em terra fértil.
Se algum dia disser que há esperança
Então não preciso de bússola
Voo até os confins da galáxia
E puxo-a pela mão
Corro contigo na chuva
Compro pra ti um cachecol carmim.
Se algum dia me disser que estás feliz assim
Então me encolho
Me fecho como um caracol frente a um punhado de sal
Me retiro como super herói que não quer revelar a identidade
Vou-me como folha sem rumo tocada pelo vento.
Se algum dia me disser que está tudo terminado
Então me transformo em ponto final
Não escrevo mais poesia
Não dedilho meu violão, não acendo mais fogueiras
Não faço mais nada
A não ser viver até o pôr do sol
Não canto, nem choro, nem rezo, nem durmo...
Fico aí pelos cantos como um moribundo esperando a ferida cicatrizar.
Se me disseres que os tempos são outros
Então eu concordarei e pedirei só pra descansar em paz
Peço licença e me refugio em um casebre nas montanhas de gelo
Ali acendo, aceno, ascendo...



                                              (Bertulinha/17)

domingo, 22 de janeiro de 2017

SEMIFUSA

Há tantas coisas em semifusa
Há tantas coisas em ‘desarrollo’
Em meio mundo, meio difuso, meio confuso...
De com+fusão, de descompasso, sem fusão.
E agora o que representam palavras como:
Pedra, beijo, mar, fim, tempo, calçada?
E o puramente nadificador?
E o espumante? E o licor?
Cadê as pernas, o voo, a alma?
Vê a palavra grifada a cima?
Foi um erro! Troquei a posição do ‘l’ e do ‘a’.
O ‘l’ vinha primeiro, depois o ‘a’!
Mas vi que o erro era um acerto!
Óh lama! Pra que serve?
Óh alma! Ainda vives?
Em derrocada está o tempo! Está a lama! Está a alma!
E agora o que vês pelas fendas deixadas pelas suas decisões?
São só fendas. Impenetráveis a não ser pela luz.
Óh luz! Quem é capaz de suportar a ardência nos olhos?
Preferes então: Fendas ou Vendas?
Com vendas não vês a fenda e sem fendas não vês a luz.
Vendas? Venda as vendas, fique com as fendas...
Pois onde há fendas, há luz, há passagem, há esperança...
De semifusa à clareira!

E... é... parece ser só isso.

           (Bertulinha/17)

sábado, 14 de janeiro de 2017

MONOSSÍLABOS

Sobretudo ainda estou vivendo...
Às vezes solidão, às vezes tédio
E eis que é nesses estados
Que nos apossamos de nós mesmos
É rasgando a sombra da angústia
Que sentimos como somos por debaixo da pele
Nada de desistir e achar que tudo está perdido
Pois é no rebento pelo qual se invalida a casca da semente
Que surge a mais bela planta
E é por isso mesmo que de semeadura vivemos nós
Mesmo sabendo que a colheita é custosa e o retorno é quase um quadro vazio...
Só peço que me sobre forças para arrastar pelo caminho aquilo que sobrou do que sonhei
Tudo é começo, tudo é recomeço e projeto
No projetar podemos arriscar voos com apenas três monossílabos: ré, fé, pé...
Ré é a doçura do acorde e às vezes um regresso preciso
Fé é por si mesma e você entenda como quiser
Pé é caminho, disposição, é rastro, é marca!
Avante já, pois o tempo não espera!


         (Bertulinha/17)