terça-feira, 30 de junho de 2020

TÉDIO

O que pode ser isso?

Físico não é, mas parece ser! É como se fosse flocos de neve no mais flamejante deserto.

É a coisificação do tempo eterno, em uma só noite.

É um aborrecimento enojado das coisas fúteis que nos rodeiam no .

Talvez fosse melancolia em ataque como uma nebulosa tristeza que acomete e afeta...

Será um excesso de vazio, no próprio nada, que incessantemente o tempo nos revela?

É dissipar-se no lado inverso do sublime.

Seria, quem sabe, a angústia presenteando-nos com o nada para nele ficarmos suspensos?

Não!

Não é aborrecimento; não é melancolia, nem tristeza, nem angústia.

Então o que é?

É um estar detido no decorrer das horas, como o ponteiro que ‘marca’ o tempo, mas não é o tempo e nem sai do lugar...

É uma afecção que causa inércia, mas ao mesmo tempo é avassaladora ao coração.

Não é um estado psíquico-patológico, nem é o medo de morrer...

É um calafrio impetuoso que invade aquilo que pode ser chamado de alma e lhe arranca a essência e enterra o seu conceito imortal.

É um desterro, é uma dor fora do corpo que fere o ‘ar’ – espaço vazio - entre os objetos existentes.

É um relutar frente a correnteza do todo e do tudo como fenômenos necessários ao ser.

Não estou sabendo qual é a causa e por qual causa isso toma-me completamente.

Talvez seja uma película invisível do tempo, que não me arrasta nem fixa-me, mas é estrondosamente poderosa...

Mais uma vez pergunto: O que isso?

É o poderoso TÉDIO... de tudo!

Mas entenda! É pelo TÉDIO que (re) tomamos (tomamos de novo) o que haviam roubado de nós, ou nós mesmos havíamos perdido. Só.


(Ezildo Antunes - Esp. em Educação e Me. em Filosofia)

sexta-feira, 5 de junho de 2020

EU ERRO



            No ano de 2016 eu escrevi: “O ser humano não é errante porque erra. É errante porque caminha. Caminhando ele erra e na errância, ele aprende. Aprende que precisa errar para aprender, e, aprendendo, ele sempre sabe que é um errante, não porque procura o erro, mas porque sempre escolhe caminhos.”
            O que é então o erro?
            O erro é uma falha. É uma ação. O erro é uma tentativa. O erro é uma causa... e o que causa o erro?
            O erro é causado pela intenção ou pela vontade de acertar.
            Se for intencional, já não é mais erro, mas sim maldade. Se você erra intencionalmente, você expõe o mau-caráter, você não usa sua fagulha divina, ou seja, a luz de sua razão.
            Mas se você erra tentando acertar, sem propósito de errar, você mostra a genuína marca do humano, isto é, somos passíveis de erro e sendo assim, também somos eximidos da culpa por errar.
            Errar intencionalmente se concretiza quando sabemos o que é para fazer e, por esse ou aquele motivo, não o fazemos, ou seja, nosso propósito é errar.
            Mas, quando não se sabe o que fazer e, quando pede-se urgência na ação, então toma-se a decisão mais aproximada do que é certo. A incerteza no que se terá que fazer, retira a configuração do erro intencional. E, às vezes, nosso caminho é incerto, mas precisamos caminhar, errando e acertando. Às vezes o caminho é obscuro, mas temos que buscar a clareira... Ás vezes o caminho é nebuloso, mas precisamos marchar em direção da luz. E por isso mesmo que, na obscuridade – erramos, assim também como na nebulosidade...
            Em tempo de incertezas, vamos errar mais e talvez acetar menos, mas isso não quer dizer que erramos intencionalmente... Se erramos, como de fato pode acontecer, foi fazendo o melhor que tínhamos que fazer naquele momento de incerteza. Aliás, como diz um filósofo: “Quanto mais incertezas temos, mais inteligentes somos.” Por que estar certo de alguma coisa ou de tudo, faz com a inércia tome conta da nossa ação, não nos movimentamos mumificados pela estagnação.
            Por isso eu digo: Eu erro!
            Erro porque faço! Erro porque quero que aconteça! Erro porque busco fazer o meu melhor! Erro porque sou de tentativas! Erro porque sou errante! Erro porque penso e me movimento no labirinto daquilo que penso ser possível.
            Então, quando eu errar, ou seja, quando eu não corresponder sua expectativa, não me julgue. Primeiro por que não há ninguém que não erra; segundo porque não errei intencionalmente; terceiro, porque errei tentando acertar, errei fazendo o melhor que podia naquele momento.

(Ezildo Antunes - Esp. em Educação e Me. em Filosofia)

sexta-feira, 3 de abril de 2020

POR UMA MAIÊUTICA AO CONTRÁRIO

Demorou, mas chegou o tempo!
Qual?
O tempo em que devemos praticar (por força maior) uma maiêutica ao contrário.
__ O quê?
__ Explico!
"Tenho isso em comum com as parteiras: sou estéril de sabedoria; e aquilo que há anos muitos censuraram em mim, que interrogo os outros, mas nunca respondo por mim porque não tenho pensamentos sábios a expor..."
As linhas destacadas acima são, segundo Platão, palavras de Sócrates (Teeteto, 15c), onde compara seus ensinamentos (seu método) à arte das parteiras.
Obviamente Sócrates é o parteiro de ideias - dos outros - Ele pergunta! Ele interroga! Expõe sempre o outro! E, de forma sagaz, demonstra o erro dos outros e ainda usa seu ímpeto mordaz para ironizar e tentar colocar seu interlocutor em situação ridícula.
Mas isso era naquele tempo! E hoje?
Nós, nesse tempo transitório, caótico, incerto... tendemos ser aquele Sócrates mordaz nas palavras. Praticamos a (eu)tica (se é que me entende!?).
Apontamos o dedo. Criticamos. Duelamos. Polemizamos. Ferimos. Polarizamos. Soltamos palavras ao vento... É sempre o outro o culpado, o errado, o imbecil, o inculto, o impróprio, o idiota, o incauto...
Já está mais que na hora (e um minúsculo organismo está forçando para isso) de realizarmos uma maiêutica ao contrário, isto é, este é o momento em que devemos parar de desviar-nos do nosso próprio rosto.
Quem dera seguíssemos não a (eu)tica, mas sim a primeira lição do velho Sócrates. Aquela que ele mesmo aprendeu com o oráculo: "Conhece-te!"
O autoconhecimento não é um tema do modismo coach do nosso tempo! Ele é bem mais antigo e profundo. É um convite necessário do Eu.
Ou ainda...
Seria melhor imitarmos o velho Sócrates quando disse (segundo Platão): "Uma vida não examinada, não merece ser vivida." (Platão, Apologia, 38 a).
Isso não é uma lei moral, isto é, que alguém te empurra 'guela' abaixo. Nem está expressa em preceitos de fetichismo religioso. Isso deve ser uma apelo de sua própria consciência. É como aquele apelo da "voz" da consciência que, segundo Heidegger (§ 55 de Ser e Tempo) deve ser realizada pelo próprio ente (ser-aí) de existência, isto é, por cada um de nós. Não é um mero tribunal do eu como se a consciência se apossasse de uma voz, ou seja, deve ser sem mediação, visto que "só é atingido pelo apelo quem quer recuperar-se." (p. 350).
É isso a maiêutica ao contrário! Em um tempo de ruídos, de falação... É hora de recuperar os sentidos, perguntar-se pelo sentido e dar novos sentidos à nossa existência.
Se isso não for possível, pelo menos, fique então com a terceira máxima socrática: "...ele não sabe nada e pensa que sabe alguma coisa. Eu não sei e nem penso que sei alguma coisa. Parece que tenho uma ligeira vantagem sobre ele..." (Platão, Apologia).
Maiêutica ao contrário é isso:
1. Conhece-te;
2. Examine (escute o apelo da voz da consciência)
3. Não fique achando que sabe.

(Ezildo Antunes - Esp. em Educação e Me. em Filosofia)

sexta-feira, 6 de março de 2020

MULHER

Música autoral em homenagem às MULHERES Imagem da terra É a mais bela da criaturas Fonte de Vida, às vezes ferida Mulher! Estrela do norte É a mais forte, sai pra brilhar E com o seu brilho cobre teus filhos Mulher! E se um pranto em seu rosto rolar Olhos pra frente, não deixe de amar Quantas histórias, lutas e guerras Você venceu! Amor profundo, sonhos que o mundo reconheceu! Quantas Marias daqueles dias Tão atuais Mulher!