terça-feira, 28 de junho de 2016

EROS NA QUÁDRUPLA ORIGEM DA TOTALIDADE

A poesia hesiódica na Teogonia presenteia-nos com a Quadrupla Origem da Totalidade formada por Kháos, Terra, Tártaro e Eros. Os versos que marcam o "nascimento" destes são assim descritos por Hesíodo:

"Sim bem primeiro nasceu o Caos, depois também
"Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre,
"dos imortais que têm a cabeça no Olimpo nevado,
"e Tártaro nevoento no fundo do chão de amplas vias,
"e Eros: o mais belo entre os Deuses imortais,
"Solta-membros, dos Deuses todos e dos homens todos
"Ele doma no peito o espírito e a prudente vontade."

Todos os quatro possuem seus epítetos em abundância, mas aqui destacaremos as tão sacras e poderosas qualidades de Eros:
- É o mais belo entre os deuses imortais;
- Eros Preside à união amorosa;
- À ele era dirigido culto agrícola da fecundidade;
- Seu domínio estende-se irresistível sobre deuses e homens;
- Desejo de acasalamento que avassala todos os seres;
- Doma no peito o espírito e a prudente vontade.
[...]

Essas características apenas não dão conta de entendermos sua constituição, mas se adentrarmos mais no significado deste Deus na tensa e dinâmica quaternidade podemos dizer ainda que:
-Eros está mais aparentado da Terra e do Ceú;
-Eros possui força energética e movimento para que na terra não cesse a geração;
- Isso porque é estéril em si mesmo, mas comanda o princípio da união por amor e da procriação.

Parece que Eros fica bem representado em um poema de Safo em que esta diz:

Parece-me par dos deuses
Ser o homem que ante a ti
senta-se e de perto te ouve a doce voz
e o riso desejoso.
Sim! Isso me atordoa o coração no peito:
tão logo te olho, nenhuma voz me vem
mas calada a língua se quebra,
leve sob a pele um fogo me corre,
com os olhos nada vejo, sobrezumbem os ouvidos,
frio suor me envolve, tremo toda tremor, mais verde que relva estou
pouco me parece faltar-me para a morte.
Mas tudo é ousável e sofrível...

Eros parece mesmo um paredro inigualável da terra, que sendo em si mesmo estéril, incentiva e movimenta o Assento Primordial (Terra) sem lhe tirar-lhe a sacralidade e originalidade.

Fonte de Pesquisa: Teogonia - A origem dos Deuses (Estudo e Tradução de Jaa Torrano).

segunda-feira, 20 de junho de 2016

quinta-feira, 9 de junho de 2016

DE REPENTE UM AÍ

DE REPENTE UM AÍ
Ezildo Antunes[1]

         Estavam eles tão passivamente dispersos e distraídos com o ato do Criador e eis que de repente surge uma voz inebriante e sagaz que disse:
__ Coma deste fruto!
         De início, a mulher disse, não!  E retrucou: __ Estamos em total conforto e abundância do todo. Não carecemos desta fruta!
         Mas a voz insistiu:
___ Comais já deste fruto e sentirás que o seu humor vítreo te esconde algo muito mais sublime do que agora vês.
         A mulher, então, em sua cuidadosa intuição e perspicaz desejo indagou:
___ Algo mais sublime? O que pode ser mais sublime do que a doçura da obediência e a certeza da vida?
         A voz investiu de vez - pois quando se pergunta por algo é dado o primeiro passo pelo interesse completo!
___ Doçura?! Você mulher não sabe mesmo de doçura! O doce dessa fruta contém o doce mais saboroso de todos os sabores dos doces.
         A mulher impetuosa e com a curiosidade exalando, com a pele inteira enrubescida esticou as veias dos braços e num ato quase encantado, com as duas mãos estendidas tomou para si aquela fruta e usando mesmo seus sentidos, sentidos perfeitos do criador, fez estalar os dentes naquela fruta maçuda, naquela fruta carnuda, foi quase um ato de amor.
         O homem por sua vez estava ali extasiado, bem descompromissado, nu sem ter o que fazer. Mas de repente em um toque, sentiu a mulher chegar e quando ele pôs-se a olhar, olhou-a bem diferente, com aquela fruta nos dentes mordia cada vez mais, e sem perguntar por nada, se viu por ela abraçado, quisera ter recusado, mas tempo não dava mais. Então também desejoso, talvez até corajoso mordeu a fruta de fato. Sentiu o doce sabor, contava as mastigadas e a mulher nele abraçada dizia somos um par.
         Então queriam mais fruta, mas a voz que era astuta disse daquela já não tem mais. De fato não tinha mesmo, pois bastava uma delas, era fato consumado e os dois desconfiados viram algo diferente, seus rostos estavam quentes, sentiram o húmus da terra e como se numa guerra sentiram tanta vergonha, mas claro ninguém se oponha, pois nesta cena medonha eis que de repente um aí.




[1] É Professor, Filósofo, Especialista em Educação e Mestrando em Filosofia.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Mente sadia



RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO TRABALHO

RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO TRABALHO
Ezildo Antunes[1]

            O objetivo deste pequeno texto é apresentar pontos chaves para a compreensão dos componentes constitutivos das relações interpessoais no trabalho. O texto que segue, pretende discutir o tema proposto acima, abordando basicamente os seguintes pontos:
a)    Um breve histórico do conceito de trabalho;
b)    Apresentar o trabalho como ação social e poiesis
c)    Perceber a importância da ética nas relações de trabalho
d)    Indicar os quatros tipos básicos de ser relacional
e)    Postular a importância do autoconhecimento
f)     Reflexão sobre: vida cotidiana e a marca da distração
      Sabe-se que o conceito de trabalho durante boa parte da história teve sempre a conotação de fardo e castigo. Isso quer dizer que por muito tempo o trabalho foi visto como atividade vinculada a um grupo de pessoas que deveriam sofrer ou pagar duras penas através do trabalho. Trabalho é coisa de gente que deveria ser castigada não por que fez alguma coisa, mas por pertencer a certa classe deveria suportar os tormentos do trabalho. Daí teve-se a nomenclatura do trabalho escravo, por exemplo, assim como a denominação de servo ou servidão.
      Se voltarmos à formação da cultura ocidental, por exemplo, marcada principalmente pela constituição greco-romana, teremos o trabalho deixado nas mãos das pessoas das camadas mais baixas destas sociedades. O Escravo (assim como mulheres e crianças) estava sempre marginalizado e por muitas vezes não era contado como pessoa dentro da polis. Pode-se ver que grandes filósofos, como é caso de Platão, desprezavam o trabalho manual, por exemplo. Ele mesmo chega (em Sua obra A República) fazer uma divisão das ocupações para a organização das cidades estados em que classifica em primeiro lugar os de alma racional (ouro) e que deveriam ocupar cargos políticos (mandar); em seguida os de alma irascível (prata) seriam os guardiões da cidade (zelar) e por último os de alma apetitiva (bronze) sobraria o sustento da cidade através do árduo trabalho (obedeciam).
            Se adentrarmos à formação da cultura da Idade Média, não teremos muitos avanços no que diz respeito a valorização do trabalho e daquele que trabalha. Seguindo a mesma ordem piramidal o escravo grego, tornou-se agora servo que trabalha exaustivamente para seu senhor. O Senhor detém 95% das riquezas e os outros 5% o servo usaria como quisesse. Não se pode esquecer que mesmo a Igreja que é integrante dessa pirâmide também ficaria com uma parcela da produção provinda do duro trabalho servil. A lógica da religião judaico-cristã sobre o trabalho advém exatamente da noção de trabalho como castigo. Pode-se conferir já no livro do Gênesis o castigo divino à mulher por ter desobedecido à ordem, qual seja: “sentirás as dores de parto”. Para o homem, no entanto seu castigo foi nada mais nada menos que: “com o suor de seu trabalho ganhará o seu sustento.”
            As sociedades foram se transformando na corrente do tempo e com elas também as relações de trabalho foram ganhando novos traços. Talvez com Karl Marx (1818 – 1883), tivemos a maior crítica sobre as relações de trabalho da história. Marx escreveu centenas de páginas principalmente sobre meios de produção, força de trabalho e relação patrão – empregado. Mas apesar de todos seus esforços já havia acontecido a grande colonização mundial realizada por países europeus e que a marca do trabalho como escravidão e servidão já havia se espalhado por muitos lugares de todo o mundo como é caso do Brasil que ficou marcado na história por ser um país construído a custa de trabalho escravo.
            Mas nosso objetivo não é o aprofundamento sobre o tema relações de trabalho, mas sim a de apresentar o trabalho com uma ação social. Isto é, o trabalho tem uma marca inegável que é a de ser uma atividade extremamente relacional. Mesmo aquele se diz autônomo, vai prestar serviço a outro e assim participa sempre da malha social do trabalho. Sendo assim, se o trabalho é uma ação social, a grande questão é como deve ser o relacionamento dos agentes dentro desse processo complexo que é o relacionamento interpessoal. Nesse sentido, pode-se até escolher que tipo de trabalho você irá realizar, mas o que foge totalmente de sua escolha é o grupo de pessoas que vão partilhar a mesma ação: trabalhar.
            É importante perceber que o trabalho apesar de ser uma ação social, envolve também interesses individuais. Ação social diz respeito à missão que tal instituição de trabalho vai tomar para si. Nesse sentido todos os trabalhadores daquela instituição vão agir de acordo com critérios pré-estabelecidos por seus gestores. Por outro lado, ao trabalhar o profissional está buscando seu sustento, sua qualidade de vida, sua realização pessoal (sua poiesis). Como então conseguir nivelar esses dois lados da convivência no trabalho? Como buscar o equilíbrio entre poiesis e produção conjunta?
            Uma primeira resposta para essas perguntas seria perceber que humanos vivem e se relacionam através de princípios pré-estabelecidos em seus nichos de vivências o que chamamos aqui de ética. Portanto, cada grupo combina entre si como devem viver, ou seja, que tipo de conduta os integrantes vão assumir. A palavra ética tem origem no vocábulo ethos que significa exatamente morada, com costumes assumidos naturalmente dentro da con (vivência) para o bom desenvolvimento das relações interpessoais ali praticadas. Um, dentre infinitos princípios éticos, por exemplo, é: ‘o que não é meu, não é meu. ’ Esse é um princípio válido para todos e todos devem apreendê-lo e vivenciá-lo. Do contrário, isto é, se este for apreendido enquanto reflexão puramente teórica e não for colocado em prática, falta neste caso a moral. Portanto, a ética é sempre coletiva, pois pela pré-reflexão todos aprendem os seus princípios, mas a moral é individual e se evidencia quando pela decisão/escolha pratico ou não os princípios. A pessoa imoral, portanto, é aquela que nem reflete eticamente, muito menos respeita os costumes, regras ou normas que regem a vivência de cada ethos.
            Tudo isso significa que o local de trabalho é um pequeno ethos, uma pequena morada e se, neste caso, os participantes desse pequeno ethos soubessem dos princípios que regem tais vivências e os praticassem tudo estaria resolvido. Isso seria o ideal! Mas na prática cada pessoa se apresenta no pequeno ethos com toda uma carga individual, pessoal, isto é, marcas exclusivas que determinam aquilo que ela é enquanto um eu particular. Co-pertencer a um grupo significa um acerto moderado entre eu e o nós. É interessante dizer que na maioria das vezes não se presta atenção nessa relação EU-NÓS, mas isso não se acentua como negatividade, pois como na etimologia da palavra nós, pelo menos na derivação latino-espanhola sempre escrevemos nosotros, indicando assim que há uma relação de familiaridade nesse tipo de relação. O que não deveria acontecer? É uma publicização do eu, isto é, um eu perdido, desaparecido dentro do nós, tornando-se apenas um quem. Falando de maneira mais clara, há um sufocamento do eu individual de cada um em detrimento do nós.
            Então é hora de se perguntar: que forças os grupo exerce sobre o eu? De que maneira influencio o grupo? Em resposta a essas questões pode-se dizer que há basicamente, no que diz respeito ao ser relacional, quatro tipos de reação no momento em que se estabelece con (vivência): A apatia, a antipatia, a simpatia e a empatia. Sabe-se que a palavra pathos (vocábulo grego) significa paixão e paixão nesse caso entendido com força vital que impulsiona todos à ação.
            Se tomarmos a a-patia, tendo o a como negação, pode-se dizer que o apático é aquele desprovido de paixão, isto é, sem força vital e portanto, indiferente ao processo relacional. Já no caso da anti-patia a palavra se explica etimologicamente por si própria, pois todo o prefixo anti significa contrário a. Neste caso, mesmo tendo o pathos, este é usado sempre de forma negativa dentro do processo de convivência. O antipático neste caso reflete mau humor, aspereza e assim cria uma barreira intransponível nas vivências. Já no que diz respeito à sim-patia, esta parece ser uma característica positiva, pois o prefixo sin significa sempre consonância grupal, pois deste prefixo surge as palavras (sintonia, sinfonia, sincronia etc.). Isso significa que a simpatia em sua devida moderação poderia ser um aspecto positivo para as relações interpessoais. Mas ela torna-se superficial se tomarmos outro tipo de ser relacional qual seja a empatia. Empatia, ao contrário de simpatia, é sempre um forte compromisso com o outro. Empatia não significa invadir o espaço do outro, mas sim, inteligentemente compadecer junto aos problemas do outro. Empatia é se colocar junto do outro e tentar entender o que o outro está sentindo, mesmo que de primeira mão não resolva seus problemas.
            Assim, tomados esses quatro conceitos básicos, tendemos sempre a julgar o outro, isto é, tendemos ao enquadramento das pessoas do nosso grupo em um desses estados de relação. O que na maioria das vezes não acontece é um autojulgamento, ou seja, não fazermos a pergunta: como eu sou frente ao grupo? Isso acontece, já explicitamos acima, devido ao nosso caráter de seres públicos, isto é, quando estamos ‘dentro’ do grupo perdemos por vezes nossa ipseidade. Neste caso é hora de resgatar aquilo que chamamos aqui de autoconhecimento. Autoconhecimento aqui não é tomado na simples apreensão de quem eu sou para depois a apreensão do outro, pois, como já dissemos, quando eu sou já sou-no-mundo; já sou-com-os-outros e isso se dá em simultaneidade. Autoconhecer-se é saber, na prática, se minha constituição fundamental como ‘ser’ relacional está sendo assertiva ou não.
            Mas quais fatores são relevantes nesse processo de autoconhecer-se? Como devo proceder em relação ao meu autoconstruir-se? Pode-se dizer que esse processo é contínuo e interminável, pois o caráter de crescimento humano deve ser algo perene em sua/minha existência. Neste caso vale a premissa: enquanto existo me construo, enquanto me construo existo. Em primeira instância devemos percorrer os seguintes aspectos: a) deve-se saber que devo estar em constante mudança. A vida é marcada pelo dinamismo, pelo movimento, pelo fluir. Não existe mais nada fatal para o processo vital do que o engessamento das estruturas constitutivas do eu; b) deve-se saber que uma das virtudes mais preponderantes nesse processo é coragem.  A coragem não é ausência de medo, mas sim o enfrentamento deste. Pode-se dizer também que através da coragem, sabemos o que é o medo. Medo não é pânico. O medo os coloca em alerta, o pânico nos petrifica. A pessoa que diz que não tem medo não está em alerta e por isso corre risco. A coragem pode nos colocar em direção da realização de nossos sonhos. A coragem nos impele para o alto e nos faz diferenciar sonho de delírio. Sonho é sempre algo realizável, delírio é sempre algo inatingível; c) outra característica constitutiva do nosso ser relacional é a flexibilidade. Ser flexível é saber mudar devido a uma exigência real e isso distancia flexibilidade de volubilidade, pois esta última reflete a mudança sem resiliência, isto é, muda-se de acordo os modismos e, portanto a mudança é superficial. Uma das tentativas de conceituar o homem pela filosofia foi feita pelo filósofo Pascal e ele diz: “O homem é um caniço agitado pelo vento.” Essa definição parece estar próxima de volubilidade e não de flexibilidade. Pois o ser volúvel é ser inconstante e instável; d) A partir da reflexão da flexibilidade pode-se agora pensar sobre a questão do hábito. Aristóteles (séc. IV a.C.), afirmava que a excelência se conquistava através do hábito. A repetição nos leva a virtude. Será? Devemos por vezes, duvidar da força do hábito no sentido de que ele nos acomoda, nos deixa sempre do mesmo modo, isto é, nos impede de mudar. Neste caso deve-se perguntar se o hábito é competência ou imobilidade? Não é fácil, portanto, desabituar com aquilo que nos parece por demasia confortante, mas às vezes é necessário deixar nossos velhos hábitos e sermos ávidos em procurar traços novos para nossa existência; e) por último (último aqui não deve ser entendido como algo que finde a formação humana, apenas está sendo utilizado como forma didática de dizer último) deve-se buscar sempre a melhoria da comunicação. Em primeiro lugar deve-se desapegar do velho esquema de comunicação: emissor-mensagem-receptor. Este esquema é retrogrado e por ser retrogrado é não funcional. A comunicação contemporânea não é tripartite como esta apresentada acima, mas sim uma comunicação por vezes não mais relacional em que se recebem informações por diferentes meios e por vezes são muito mais eficazes. A comunicação é global e as pessoas interagem simultaneamente com diversas fontes. Parece que, devido a diversas facetas comunicativas, há um desentendimento na hora de realizar a comunicação, o que não é verdade. Às vezes, por exemplo, um produto é vendido a um consumidor sem que necessariamente haja o próprio conhecimento entre prestador de serviço e consumidor. Isso corre devido aos diversos instrumentos que temos hoje no tecido de nossas relações.
            Mas tudo isso colocado sobre a comunicação, sugere que nós devamos tomar certo cuidado na utilização dos meios de comunicação. A má utilização dos diversos utensílios que estão à-mão pode levar o que denominamos aqui de cultura da distração. Mas o que é de fato cultura de distração? Como ela se apresenta em nosso cotidiano? Devido a uma gama de atrativos postos à-mão, isto é, dispostos prontamente para o uso e de fácil acesso, muitas pessoas caem em profunda distração em relação a si mesmo e ao outro. Um bom exemplo disso é a figura de um aparelho celular moderno que como dispositivo de comunicação agrega em si muitos aplicativos que interagem simultaneamente levando o ‘condutor’ de tal dispositivo a uma distração crônica distanciando-se do outro. Esse distanciamento leva o ser, que é sempre ser-com, ‘agir’ com indiferença ao outro e, portanto não considerando ‘o outro como legítimo outro’ como bem ensinou Maturana em sua obra Emoções e Linguagem na Educação e na Política.
            Neste sentido, com demasiada distração somado a sua consequência, isto é, a indiferença, o ser humano vai perdendo seu caráter mais fundamental que exatamente a característica de ser-com. Ser-com, assim, é praticar muito mais que a empatia, já descrita acima. Ser-com é se colocar em disposição como cuidado com o outro. Só quando praticamos o cuidado com o outro é que podemos manter um alto nível de relacionamento nas vivências cotidianas.
            Em fim, quando tratamos de relação interpessoal no trabalho, devemos prestar atenção que o trabalho é sempre uma ação social. Uma ação social sempre pressupõe um arcabouço ético. Devemos atentar que a malha ética a qual estamos inseridos é sempre marcada pela força que o público exerce sobre a ipseidade humana e vice-versa. Nas vivências para além da ética, devemos prestar atenção que o outro se apresenta com características genuinamente pessoais muitas vezes diferentes das nossas e nesse caso devemos aprender a lidar com essas características sem que haja o confronto. Lembrando que confronto se difere de conflito. Confronto é a tentativa de anular o outro, já o conflito é o começo para a resolução de problemas, de busca para o crescimento de todos. Então o correto é não julgar como o outro se apresenta, mas tentar, através do autoconhecimento, melhorar nossa postura na cotidianidade. O autoconhecimento neste caso não é apenas saber quem sou eu (fecho de psique), mas é a busca de lapidar aquilo que sou constantemente.
            É importante se dar conta que esse autoconhecimento se dá em meio a uma desenfreada distração da pessoa, já que esta vive submergida entre vários aparatos familiares e sempre à-mão. Essa distração, se não controlada, levará a pessoa a uma indiferença, perdendo assim o seu caráter mais essencial de ser, qual seja, o cuidado. Assim levemos em consideração esse princípio: “não deixe que o TER te TENHA” ou ainda, mais filosoficamente falando “Faz parte da autenticidade humana não fazer a si mesmo nem o outro de coisa (DING), de instrumento (Zeug).”




[1] É professor, Filósofo, especialista em Educação e Mestrando e Filosofia.