quinta-feira, 6 de novembro de 2014

ABRE ASPAS PARA M. HEIDEGGER

ABRE ASPAS PARA M. HEIDEGGER

"Os mortais são os homens. chamam-se mortais porque podem morrer. Morrer diz: ser capaz de morte como morte. Somente o homem morre e, na verdade, somente ele morre continuamente, ao menos enquanto permanecer sobre a terra, sob o céu, diante dos deuses. [...].

Os mortais habitam à medida que salvam a terra, tomando-se a palavra salvar em seu antigo sentido, ainda usado por Lessing. Salvar não diz apenas erradicar um perigo. Significa, na verdade: deixar alguma coisa livre em seu próprio vigor. Salvar a terra não é assenhorar-se da terra e nem tampouco submeter-se à terra, o que constitui um passo quase imediato para a exploração ilimitada.

Os mortais habitam à medida que acolhem o céu como céu. Habitam quando permitem ao sol e a à lua a sua peregrinação, às estrelas a sua via, às estações dos anos as suas bênçãos e seu rigor, sem fazer da noite dia e em do dia uma agitação açulada.

Os mortais habitam à medida que aguardam os deuses como deuses. Esperando, oferecendo-lhes o inesperado. Aguardam o aceno de sua chegada sem deixar de reconhecer os sinais de suas errâncias. Não azem de si mesmos deuses e não cultuam ídolos. No infortúnio, aguardam a fortuna então retraída.

Os mortais habitam à medida que conduzem seu próprio vigor, sendo capazes da morte como morte, fazendo uso dessa capacidade com vistas a uma boa morte. Conduzir os mortais ao vigor essencial da morte não significa, de modo algum, ter por meta a morte, entendida como o nada vazio; também não significa ofuscar o habitar através de um olhar rígido e cegamente obcecado pelo fim"

( Do livro: Ensaios e Conferências - Conferência: Construir, habitar, pensar p. 130)

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